A úlcera venosa é uma ferida provocada por uma doença chamada Insuficiência Venosa Crônica. Os trabalhos epidemiológicos demonstram que úlceras venosas afetam de um a dois por cento da população mundial.Além dessa alta incidência, temos também trabalhos mostrando a recidiva dessas feridas em torno de 50% nos primeiros dois anos.

Para entender melhor os motivos da relação da doença com o aparecimento da ferida e sua recidiva, terei que explicar um pouco sobre a fisiopatologia da Insuficiência Venosa Crônica.

Mas antes, deixa eu me apresentar,
sou o 
doutor Evandro Reis, mais conhecido como Doutor Feridas e a mais de 15 anos me dedico a tratamento de feridas e o tema insuficiência venosa crônica é algo que tenho bastante propriedade para abordar.

A insuficiência venosa crônica é uma doença que afeta a circulação venosa dos membros inferiores. A circulação venosa é responsável por bombear o sangue no sentido das pernas ao coração. O funcionamento adequado desse retorno venoso envolve dois componentes principais: o músculo da panturrilha e as válvulas venosas.

O músculo da panturrilha é considerado o coração das pernas. Qualquer situação que diminua sua capacidade de bombeamento como atrofia e flacidez irá deixar esse mecanismo ineficaz.

As válvulas venosas são estruturas dentro das veias das pernas que impedem o refluxo. Quando danificadas acabam permitindo o refluxo e consequente congestão venosa nas pernas e aumento da pressão venosa.

1.0 A diferença entre válvulas saudáveis e danificadas

Esse aumento da pressão venosa acaba provocando extravasamento de substância para fora das veias, que se acumulam nas estruturas da pele, provocando coceira e consequentemente abertura das feridas.

Essas feridas tem uma predominância para aparecer na região interna da perna próxima ao osso do osso maleolar.

1.1 Ilustração de uma ferida na região frontal da perna próxima o osso maleolar.

Entender esse mecanismo de formação da ferida faz entender que para o tratamento e prevenção dessas feridas, é essencial trabalharmos a compressão dos membros. Essa compressão vai evitar a formação do edema, melhorar o retorno venoso e consequentemente acelerar a cicatrização e diminuir o risco da recidiva. 



Os primeiros sintomas são a sensação de perna cansada.
O paciente começa a apresentar um inchaço da perna que vai piorando ao longo do dia. Esse inchaço pela manhã não é percebido, porém ao permanecer por períodos prolongados em pé, a perna começa a edemaciar atingindo o seu ápice a tarde.

Ao deitar e colocar a perna para cima esse inchaço some, pois nessa posição o retorno venoso é facilitado. Existem outros mecanismos de formação de inchaço nas pernas como a insuficiência cardíaca e renal.

A diferença é que o edema dessas não melhora com a posição deitada e já se apresenta pela manhã. A pessoa acometida por Insuficiência Venosa em estágios mais avançados começa a apresentar as veias dilatadas e calibrosas, as famosas varizes.
Em estágios iniciais apresenta pequenos vasos: chamados teleangiectasias ou veias reticulares.

O extravasamento de sangue provoca também no primeiro momento uma coloração avermelhada na pele, que com o passar do tempo assume uma coloração mais escura, chamada Dermatite Ocre.

Você sabe o que é Dermatite Ocre? | ND Mais

2.0 Foto de perna com caso de Dematite Ocre.

●  História familiar: principalmente herança da mãe visto que a doença tem umaincidência maior em mulheres pelas gestações e fatores hormonais

●  Múltiplas gestações: devido a sobrecarga do peso durante a gravidez.

●  Obesidade: sobrecarga do peso sobre as pernas acabam danificando as estruturasvenosas e dificultando o retorno venoso.

●  Profissões que levam a ficar longos períodos em pé.

●  Traumas extensos na perna: podem danificar as estruturas venosas e musculares encarregadas do retorno venoso. 


A úlcera venosa por si só já é difícil cicatrizar.
Além de todo impacto sofrido durante o processo de tratamento, uma recidiva muitas vezes faz com o paciente acometido tenha sérios impactos psicológicos.
Portanto prevenir essas recidivas é fundamental e deve fazer parte de ações de profissionais que tratam esses pacientes.

Alguns pontos importantes para reduzir as recidivas:

  •   Cuidados com a pele: utilizar cremes hidratantes e evitar ressecamentos das mesmas.

  •   Fazer exercícios que fortaleçam a musculatura da panturrilha: além de aparelhos de academia específicos, muitos exercícios podem ser adaptados no próprio lar com pesos e borrachas específicas.

  •   Boa nutrição: nesse ponto é importante evitar o sobrepeso e a obesidade, assim como também evitar dietas muito restritivas que possam favorecer a perda de musculatura, um bom acompanhamento com nutricionista é fundamental.

  •   Controle das doenças de base como hipertensão e diabetes.

  •   Evitar o tabagismo.

  •   Uso meias elásticas que iremos falar com mais detalhe a seguir.

Geralmente no tratamento da úlcera venosa são utilizadas medidas de compressão com ataduras e bandagens específicas como a bota de unna. Embora seja possível tratar também com meias específicas, essas têm sido utilizadas mais para a prevenção.
Portanto essa deve ter seu uso iniciado tão logo se obtenha a cicatrização. Vale lembrar que o tecido formado é mais frágil e a hipertensão venosa irá favorecer o reaparecimento da ferida.
Em nosso serviço fazemos a medida da perna do paciente quando identificamos que está prestes a aplicar a última bandagem.
Dessa forma já solicitamos a compra da meia para que o mesmo venha para aplicação ainda no consultório.

Além de prevenir o surgimento precoce da recidiva, é nesse momento que trabalhamos todas as informações de aplicação e cuidados com a meia e pele cicatrizada.
A escolha da compressão deve ser sempre efetuada pelo médico que acompanha o paciente e é baseada principalmente nos sinais clínicos e classificação da Insuficiência Venosa Crônica.
Existe uma classificação específica chamada CEAP, onde a letra C determina qual o estadiamento dos sinais clínicos da Insuficiência Venosa.

A partir desse estadiamento é utilizada a compressão adequada para o paciente. Importante também orientar ao paciente que ao menos sinal de recidiva da ferida ele deve procurar o serviço especializado a fim de que as condutas adequadas sejam executadas para evitar a piora da mesma.

Além disso, o paciente também deve ter ciência do tempo de troca das meias em uso, que geralmente possuem vida útil entre quatro e seis meses.

O ideal é que o mesmo possua pelo menos dois pares para trocas. Para evitar que durante a higienização das meias ele permaneça sem compressão.

Espero que tenha agregado valor a seu conhecimento a respeito da imensa contribuição da meia elástica neste caso. Compartilhe em suas redes sociais para que mais pessoas tenham acesso a esse conhecimento.

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